Frase do Dia

  • "Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"

domingo, 13 de dezembro de 2015

"Trabalha como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus"
Santo Inácio de Loyola (1491-1556)

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Diz-me


As luzes foscas da tua noite recordam-me o que é sentir o transpirar da agonia na tua ausência.
O som longínquo, perdido entre as chamas das velas do teu altar, lembra-me que o tempo há muito te deu o toque de partida.

Nessa eternidade distante que criaste, no meio de uma multidão tão ausente como tu, lembras-te de mim?
Ainda consegues imaginar o que é sentir reencontros?
Ainda consegues entreter a mente com os sorrisos rasgados que ecoavam nos Mundos que criávamos em brincadeiras?
Diz-me, há quanto tempo deixaste de acreditar na tua imaginação?

Todos os horizontes que vejo lembram-me que existes algures longe de mim.
Mergulhaste há muito nas perdições da vida, como se de um limbo se trata-se. Voltas por breves momentos à superfície onde me encontro e tocas-me ao de leve como dantes.
Se calhar nunca te disse, mas as tuas mãos são como penas na minha pele. Tocam-me suavemente e logo voam para lugares distantes.

Diz-me, algum dia pensaste em escrever-me?
Algum dia pensaste em contar uma história como esta?





sexta-feira, 16 de outubro de 2015

in Cartas para Ti


Naquele rasgo de olhar tão profundamente teu, ainda encontro o sabor a Vida, o mesmo sabor de sempre, o Único.

Contorno-te em todos os traços da tua face, dos teus lábios e das tuas palavras, como sempre o fiz e como sempre irei fazer. Não há cansaço que me impeça de percorrer a cada segundo a imensidão que és, essa força da Natureza, esse espírito selvagem indomável pela minha razão ou pelo meu próprio Amor vagabundo.
E todo o impulso começa diabólico a crescer dentro de mim quando te percorro e quando te penso. Mas Hoje não me detenho. Percorro-te, ouço-te e digo-te adeus, sempre, como se fosse a última vez.
Há muito tempo que já descobri que não sei escrever para ti, saem-me versos toscos de quem reune demasiado sentimento, demasiado fogo para a inutilidade das palavras.
Agora faço o que se faz quando já se viveu na distância: Sinto-te. Mas sinto-te tanto que queria que sentisses os meus vasos a pulsar, o meu coração a bater quando te sinto. É demasiado para as palavras, é demasiado para te dizer o que quer que seja, é demasiado para o que esta vida suporta ver. (Sabes, acredito mesmo que há Amor que a própria vida não aguenta).

Pois bem, Sinto-te. Só isso. A ti e à felicidade plena que existe em mim quando por breves instantes partilhamos um espaço que é de (novo) nosso. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Pura física


És só Tu nesse instante em que te lanças ao mar.

As ondas rebentam fortes nas costas imponentes ao vento e o impulso gerado na perseguição da própria paz é maior que o medo que te faria ficar por terra.

Os acenos, ruídos e murmúrios desvanecem-se e só o pensamento da própria integridade física tem lugar.
Sentes a água deslizar pelos dedos das mãos e as pontas dos pés ganham formas conscientes.
A cabeça guarda uma única questão clara que nunca se alastra a metafísicas: Vou conseguir apanha-la?

Tudo isto de tão pouco e tão nítido é tudo o que conta nesse instante.

De repente em pé. Uma fracção mínima ainda que gloriosa do tempo.
Segundos.
Segundos felizes duradouros como horas ou meses de conquistas.
Fracção limpa, curta, preenchida, onde só a mente se dilui num vácuo ténue de unidade com a Natureza. 

Ainda que haja nesta aventura do físico, instantes badalados a sonoridades inconscientes, o hiato vivido foi único e exclusivo de um corpo sedento de si mesmo. 

(Nunca)

"Nunca voltes aos lugares onde foste feliz".. Dizem...
Acrescento...

Salvo se:
- Foste só e queres voltar só;
- Foste só e queres voltar acompanhado.

quarta-feira, 20 de maio de 2015


Pensei que te tinha perdido. 
A ti, essa memória que em tantos momentos recordei no meu silêncio como o aviso mais poderoso e precioso dos últimos tempos.
Mas não, ontem voltaste-me e agarrei-te como se fosse a primeira vez que te recordava. 

A imagem que guardo é nítida, as palavras são simples e o cenário inesquecível:

Estava numa consulta a acompanhar uma das médicas que até hoje me surpreendeu mais pelo seu lado humano, quando a vi.
Era uma mulher alta, demasiado magra para ser saudável, coberta de rugas de sofrimento e uma calvice digna de um tratamento já duradouro de quimio.
A abordagem inicial foi a normal: abri-lhe a porta com um sorriso, disse "buenos días", indiquei-lhe a cadeira e voltei-me a sentar junto da minha tutora.
Pelo que tinha lido da história clínica e pela conversa inicial percebi que a Sra. sofria de uma doença temível (que me arrepiava só de pronunciar o nome), diagnosticada desde há uns meses e em seguimento terapêutico desde então. 
Como quase sempre acontece neste tipo de tratamentos o animo inicial de luta e vontade de vencer estava altamente abalado. Vi inclusive pela cara da médica que o prognóstico não devia ser nada bom, remetendo-se quase sempre a um sorriso amável e receptivo.
Passadas as perguntas inicias de rotina, a doente ganhou subitamente um novo brilho no olhar e  decidiu contar-nos os seus dias depois do último tratamento:

Depois do último tratamento senti-me bastante abalada, demasiado fraca e sem grande ânimo para continuar a fazer a minha vida normal. Sentia-me esgotada.
Dois dias a seguir foi o meu "cumpleaños" e pensei "Joder! Hay que celebrar un día más de vida!". Foi instantânea a reação e não fiz mais nada senão procurar os meus sapatos preferidos. Aqueles que sempre me acompanharam no que mais gosto de fazer: "Bailar". Tirei-os do armário, vesti um vestido lindo "Que guapa estaba" e desci ao piso inferior. 
Tinha-os a todos: a minha família, os meus amigos, música, comida "solo para mirar no para comer", o meu vestido lindo e os meus sapatos. Todos me olharam com receio, porque sabiam muito bem o que tinha sofrido nos últimos dias...Mas soltei o cabelo da peruca, enchi-me de força e dancei. Dancei, dancei e dancei até não poder mais. Não devo ter aguentado mais de 10 minutos, mas dancei. Senti-me viva como há muito já não me era permitido. No fim nem forças tinha para apagar as velas do bolo ou subir as escadas sozinha, mas bolas, que feliz estava com os meus 60 anos cheios de música e dança.   

O olhar que manteve durante todo este relato foi inesquecível. Repleto de um brilho de triunfo, de quem tinha vencido o sofrimento com um pequeno prazer da vida.
A sala de consulta nos minutos subsequentes ganhou uma luz incorruptível e quase que podia jurar que havia um choro uníssono de comoção entre todas.

Já no fim da consulta, despedimo-nos sem promessas de nos voltarmos a ver.
Fechei a porta e voltei-me pensativa para a minha médica que me recebeu com um sorriso.
Deixou que me sentasse ao seu lado, colocou-me a mão no ombro e disse-me:
"Mariana, nunca te olvides de respirar. Nunca te olvides del importante que es vivir e aprovechar lo que tienes"

A vida é demasiado curta para alguns, mas apenas finita para os que já não estão entre nós. 
Enquanto aqui estivermos existimos. 
Enquanto aqui estivermos somos infinitos na nossa essência e no que podemos fazer dela.  

terça-feira, 12 de maio de 2015

Viagem


A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as mais profundas barreiras interiores.
A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde se pode ter casa, um nenhures inabitável, onde à solidão apenas se opõe o sonho impenetrável de ter partido.

Quem parte treme, quem regressa teme.
E qual a linha ténue que separa este segredo do Sagrado?

Não existe resposta metafísica para a falácia da condição de viajante. Do processo de ida, de ultrapassagem dos limites e do regresso apenas sabemos o óbvio: Recordamos.
Recordamos em filme de memórias nítidas o que fomos, o que tivemos e em playback vislumbramos um desfile de imagens que perdura incessante no nosso Eu do agora.

No íntimo de nós, sabemos que quem se lembra tanto de tudo é porque espera pouco mais da Vida.
No íntimo de nós, sabemos que já só nos resta o medo de sermos hoje, tão somente, o que fomos e tivemos um dia.



sexta-feira, 8 de maio de 2015

Hoje é simples e curto.


Hoje é simples e curto: Aceitar ser Feliz.

A Felicidade é-nos na maioria das vezes vendida como uma propriedade, um estado ou um perfil demasiado difícil de alcançar e suster na longa jornada da Existência Consciente. No entanto mais do que essa inatingibilidade é a Crítica (alheia e própria) a maior responsável por nos apartarmos dessa condição. 
Bem, não nos aceitarem como felizes é mau, mas não nos deixarmos invadir pela nossa própria felicidade é no mínimo decrépito.

Há muito que me dei conta que grande parte do problema reside na educação judaico-cristã que tão solenemente imprime na nossa sociedade a ideia estóica de que a Felicidade deverá, em toda e qualquer circunstância, ser o resultado de um esforço sobre Humano. E com isto não digo que a culpa de não aceitarmos a felicidade é tão somente da educação. Sim, há uma influência major dessa rede humana na forma como pensamos, mas acima de tudo há uma imutável Pide interior que jamais se cansa de nos autopunir por "pularmos a cerca". 
Oponho-me! Oponho-me a esta chacina, a este culto silencioso de não aceitação do que deveria ser Natural no Homem. A felicidade não é um Santo Graal ao alcance de uma minoria santificada, digna e esforçada, tampoco é uma substância facilmente adquirível (diga-se), mas é no mínimo um Bem acessível a todos. 
O tema roça o cliché, verdade, no entanto, se pararmos para pensar... Não passamos nós grande parte do tempo a escolher armas para alcançar a felicidade? E quantas dessas vezes a estratégia foi tão somente destruir os muros de pedra que nos separam dela? 
Poucas, digo-vos, demasiado poucas.

Hoje é simples e curto: Aceitar ser Feliz.
Porque isso não tem mal nenhum, não exige explicações e é tão Bom.
Bolas, é tão Bom. 

sexta-feira, 13 de março de 2015

Há copos que não se esvaziam


Há copos que não se esvaziam.

Copos que geram um compasso de conversas lentas e olhares focados, que nos dissolvem pouco a pouco um no outro, como na primeira vez em que nos descobrimos.
Deixamo-nos ir num gesto de dança imóvel e de uma só vez rodopiamos pensamentos e energizamos ideias, abrimos em salto o coração à vontade que temos de explodir e...explodimos! Sempre.

Explodimos na mesa de uma tasca, com um por de sol de fundo, explodimos sem espaço e sem limite, explodimos onde não podíamos, sem barulho e sem movimento para além dos comportados pelos instintos do diálogo.
Dos destroços que libertámos em todas as direcções construimos as nossas correntes. A ignição da nossa telepatia activa-se pelo olhar e ai estamos despidos, prontos para nos unirmos no que mais de íntimo encontramos em nós: a condição Humana.

Não há maior força de ligação que esta. Uma ligação metafísica que depois de uma explosão nos permite recomeçar lentamente, sem pressas e sem dúvidas, a construir algo tão nosso como o substrato pelo qual queremos caminhar na Eternidade.

Há copos que não se esvaziam, sedes eternas e indestrutíveis que sempre possibilitarão o maior milagre da vida: a entrega inconsequente e desmedida ao Amor.




terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O fenómeno


O fenómeno do "Continuar a Gostar".

É surpreendente a capacidade que o Homem tem para continuar a Gostar de algo ou de alguém. Não me deixa de impressionar, apesar da maioria tomar como garantido, a forma como o coração nos orienta. E o sentido é único, mesmo estando cada um de nós sujeito a um rodopio de estímulos diários que poderiam facilmente promover a alteração de rota.

A verdade é que as mentes mais racionais explicam este fenómeno à luz de um trabalho diário, incessante e silenciosamente obsessivo. No entanto, tanto a experiência como a observação me têm mostrado que parte deste, advém de elementos exteriores independentes do nosso trabalho, dedicação ou cuidado. 
Injustos, inglórios e demasiado imprevisíveis. São os apelidos que geralmente atribuimos a esses elementos. Concordo. Muitas vezes concordo. Mas neste campo específico, da Arte de Gostar, a verdade é que o encanto do que está por fora do domínio da vontade se sobrevaloriza. Chega a ser mágico o inexplicável que é, dia após dia, experiência após experiência, Continuarmos a Gostar como no primeiro dia em que o fenómeno "rebentou".

Mais do que continuar, na verdadeira acessão da palavra, como quando perseguimos uma linha recta monocórdica, o fenómeno do "Continuar" exerce-se numa sucessão de picos. 
Sentimos na pele dos dias os Altos e Baixos inerentes ao Tempo que inevitavelmente nos toca, mas quando nos olhamos numa perspectiva extracorpórea o que se vislumbra é uma linha activa, que brilhantemente se desenvolve no infinito. 

Que continuemos a deixar e a saber "Continuar a Gostar". 
Mas que seja claro (porque nem sempre se pode fugir ao racional) que os referidos Picos que reluzem a recta são como as transmissões de um electrocardiograma. Inteiramente dependentes de um impulso eléctrico transmitido entre dois pólos. 


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Caminhos de ferro


Os caminhos de ferro seguem firmes pelas paisagens infinitas de perder de vista. O que vislumbram é tudo o que a vida alegoricamente pode dar: a respiração nos prados verdes, a liberdade nos riachos alagados de cristais, o amor nos casais apaixonados, a perda e o terror nas lágrimas derramadas entre faces de vultos intocáveis.

Passam. Rectos, estóicos, seguros e salvos por uma falsa imunidade carente de exposição aos antigénios vitais.
Contínuo movimento. Paragens obrigatórias. Tudo como previsto nos relatórios de circulação prescritos por entidades alheias.

Mas até eles, espiritualmente amorfos, têm os seus pequenos desvios.
Desvios esses que os sustentam nas pequenas alterações térmicas, subjacentes às variações a que nenhum material, mais ou menos vivo, pode fugir.
No mínimo desvio, que nada mais cumpre que as leis da termodinâmica, eis que se impede o descarrilamento.

Imaginem-se agora os irrequietos de espírito que seguem nos seus próprios veículos.

De que precisarão mais para além das omnipresentes leis da física?
Mais certamente, sempre mais.
E por isso vivem e não somente vislumbram.





segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Interregno

Maldito interregno este que me ocupa e dissimula, que corre como um veneno insólito e entranhado no jogo confiante de que um antídoto eficaz tardará em chegar.

Interregno por ser o período que decorre entre o momento em que me conheci e o futuro que não sabe até onde se irá perder.
Maldito, porque habita corrosivamente nesta nuvem que a nenhum corpo, razão ou destino pertence.

As lutas incessantes preenchem este hiato e trazem-me por vezes ao rosto gargalhadas descabidas e desorientadas, típicas de quem teme e de quem se vê, já em idade adulta, a espreitar a porta da saída do armário.

Sinto o ridículo. 

Tantas e tantas vezes com tantas certezas. Tantos sonhos. Tantas vontades. E de repente uma sensação de vazio incontrolável, uma nebulosidade que não passa com o despertar e que não desaparece com um copo de vinho demasiado cheio.

Onde estou?

Será que a Puta da vida armou-se agora em senhora e quer ser tratada pelo nome? 

É doloroso. Mais ainda, para quem pensa, repensa e volta a cair no erro de pensar.
Conto os dias para o terminar desta tortura que até do sono se alimenta. 

Que desgarro incomensurável de mim.

Que é feito de ti, espírito de alento e desejo?! 
Volta, porque não há maior saudade que aquela que nutrimos por nós mesmos.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Alma gémea


Mesmo com os afastamentos a que a Vida obriga, as almas gémeas sempre fluem no sentido do reencontro. 
É essa a sua natureza, o seu destino e objectivo.
A Magia que une cada um dos átomos de que são formadas, é a responsável por essa debilidade presente na singularidade e apenas restituível no reencontro. 

Dizem...que pode ser que o tempo, a distância ou o medo não me permitam mais o toque, o abraço ou o sentir do cheiro que emana estonteante da tua(minha) alma(gémea). Mas a lucidez, a essência desta ligação impenetrável sempre trarão ao real a possibilidade de encontro na Nossa dimensão.

Vai. Vai e segue-te. Arrisca. 
Podes correr por estradas diferentes, podes sentir calores que nunca o meu frio compreenderá e podes até experimentar na Vida elixires que a minha nunca poderá provar. Mas lembra-te, no fim da noite quando olhares para o céu e para Ti, vais saber que nos podemos encontrar em cada memória. Vais-te lembrar que nunca a nossa Unidade se fará única sem a pluralidade a que as nossas almas obrigam. 

Estou, estarei e estaremos. Para sempre.