Os caminhos de ferro seguem firmes pelas paisagens infinitas de perder de vista. O que vislumbram é tudo o que a vida alegoricamente pode dar: a respiração nos prados verdes, a liberdade nos riachos alagados de cristais, o amor nos casais apaixonados, a perda e o terror nas lágrimas derramadas entre faces de vultos intocáveis.
Passam. Rectos, estóicos, seguros e salvos por uma falsa imunidade carente de exposição aos antigénios vitais.
Contínuo movimento. Paragens obrigatórias. Tudo como previsto nos relatórios de circulação prescritos por entidades alheias.
Mas até eles, espiritualmente amorfos, têm os seus pequenos desvios.
Desvios esses que os sustentam nas pequenas alterações térmicas, subjacentes às variações a que nenhum material, mais ou menos vivo, pode fugir.
No mínimo desvio, que nada mais cumpre que as leis da termodinâmica, eis que se impede o descarrilamento.
Imaginem-se agora os irrequietos de espírito que seguem nos seus próprios veículos.
De que precisarão mais para além das omnipresentes leis da física?
Mais certamente, sempre mais.
E por isso vivem e não somente vislumbram.
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