Se me perguntarem se morri quando te perdi, não lhes saberei responder.
Saberei apenas que a ausência que em mim surgiu, de tão real, tornou-se enraizada, latente, sedenta.
Com a força dessa tua demanda para o Longe, relembro-me que há muito que não sei sentir nada senão a tua perda.
E desespero nesses dias intermináveis em que relembro, porque me seco da sede de te não beber.
No Longe estás tu.
E lá tiveste, tens e terás a ousadia, a dureza ou o desprezo de levar tudo contigo.
Tu levaste o teu sorriso, a tua pele encostada à minha.
Tu levaste o teu discurso sem sentido, o teu entusiasmo.
Tu levaste tudo contigo.
Deixaste-te a ti e ao teu mundo numa mala fechada que espera por "só mais uma volta" que desta não tem regresso.
E eu queria...
Eu queria que tu te levasses e não te levasses.
Queria pegar na tua mala e voar para outro longe, deixando-te comigo ou com a Felicidade das ilhas desertas.
E eu...
Que nos momentos de perda (que nem na escrita me consigo livrar) vivo a esperança, na esperança os dias e as noites alucinantes, nas alucinações a infeliz descoberta do querer dar mais do que aquilo que posso.
E então eu queria, quero e não posso.
Eu queria-te fazer renascer, falar-te dos tempos que sonho existir.
Eu queria falar-te de mim, mostrar-te o meu coração podre, os meus braços fracos.
Eu queria abraçar-te pela última vez como na primeira: com o arrepio, com o beijo algemado, com todas as promessas que só os nossos corpos e almas unidos podem prometer.
Eu queria-te, quero-te e não te posso.
Porque tu te levaste, porque eu quis e não quis, porque me perdi ao querer-te encontrar.