Frase do Dia

  • "Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ir

Ir:
O movimento que consegue não nos mover.

Pensamos que vamos,
Queremos ir
Fazemos de tudo para o conseguir...
E não vamos.

Sentimos tudo para ir,
fazemos as malas e as despedidas...
Mas ficam só as palavras.
Não vamos.

Quando vamos,
Ah...
quando vamos,
tão poucas vezes...
Não existe
Nenhum movimento real,
Nenhuma mudança,
Nenhum novo Mundo.
É ir.

Ir,
pensando que algo vai mudar...
e nada muda.
Por isso, no fim,
o que sentimos
é como se nunca tivéssemos chegado a ir.
Pior,
é sentir que fomos, voltámos
e nada trouxemos.

Está na hora,
está na hora de deixarmos de ser
estas coisas Humanas.
Vamos.
Vamos.
Vamos.
Porque eu quero ir.
E não preciso de fugir,
Não preciso de ir para longe,
Só preciso de sentir...
A metamorfose que se sente,
quando se vai.

Vamos.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Livre

Uma coisa é a realidade.
Outra é isto:
O que somos aqui.

Por muito que o contexto me agrade...
É o que chamam de real,
de que realmente gosto.

Conseguir-se libertar
desta unidade paralela...
É ser livre,
por um instante.

Um livro

Procura-se naquela Savana de mistérios,
O livro Esquecido,
que durante tanto tempo
foi para nós
Vivo
E Vida.

Corro.
Não correndo como uma preza corre.
Com o medo de vir a perder,
O que inconscientemente,
não chama vida,
mas vive.

É correr... procurando.
Como uma mãe corre,
sempre, sem mostras de cansaço,
pelos seus filhos.

Essas inscrições,
esse livro,
que não sendo o feto do meu ventre
É na verdade um fruto,
Do que mais nosso existe.

É o meu e o teu filho.
É o nosso fruto,
tão apetec(ido)
e tão proibido.

Quando um dia,
nos lembramos de procurar
as memórias,
todas estas memórias.
Não é por acaso.
É porque temos saudades.
E as minhas,
não são do livro,
que deixámos na Savana.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

(V)ealidade

Parada.
Como a chuva quando nos chega ao canto da boca,
E não encontra mais
Espaço de fruição.

Do que me apercebo,
pouco conta.
Tudo o resto que me passa:
Verdades, verdades, verdades.

Era só assim que queria:
O recalcado para um eu,
que não preciso de conhecer.
O Dependente para um eu,
que sonho não existir.
E por fim,
As verdades, verdades, verdades,
Para uma realidade que julgam existir,
Mas que,
Nunca o seria (real) caso esse dom não lhe concedêssemos .

Mas...
Pára.
Sim, tu também.
Não são essas
Verdades, verdades, verdades
que me incomodam.
É o valor que lhes dás.

Não será tudo mais verdade,
Embora menos real,
Tudo aquilo que julgamos parte de um sonho,
ou parte de uma estrutura inexistente?

E aqui paramos.
Tu e eu.
Absortos:
Pressupõe a verdade realidade?
...
Todo o inverso será chuva.
Chuva ácida, que escorre, sempre, pelos cantos da boca.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Há muito

Avizinhando-se um fim violento,
já só o coração palpita,
pelas hipóteses que escolhi e não escolhi.

No fim de fazer as minhas, e as contas do Diabo,
no fim de perder horas a fio
nas insónias,
nos sonhos tristes,
nos infortúnios maiores que as glórias;
Só tenho uma certeza:o grito final será meu!

Poderás gritar também...
Mas não te quero ouvir.
Há muito que já só me vejo a mim,
naquele prado verde,
já seco de tantos Invernos terem por lá passado.

Há muito que só me vejo a mim,
Em todo e em qualquer lugar...

E nesta minha confissão,
Que apesar de minha, só para mim traz surpresa,
Não te desculpo, nem peço desculpas,
Porque tu, e só tu...
Já sabias quem eu era...
Muito antes de eu ou o Amor existirmos.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O constraste n'Os Lusíadas

Os Lusíadas, uma obra de contrastes.

   Em tudo Luís Vaz de Camões foi um irreverente. Pela vida que escolheu, ou não escolheu, pelas questões, pelas respostas, pelos desacatos, pelo sentido humanista fervoroso e até pela epopeia que criou, que apesar das regras rígidas a que é restrita, teve a possibilidade de encontrar a profunda ruptura com o que habitualmente chamamos clássico.
   Na grandiosa obra Camoniana, ao contrário de todos os outros que pelo Velho continente ousaram apenas representar e glorificar os feitos de um herói individual ou colectivo, encontramos um novo sentido para a escrita do século XVI. Assumindo um espírito pedagógico Camões, associou à magnífica história das Descobertas e à fantasia dos Deuses pagãos a crítica ao povo que lhe era contemporâneo e ao próprio povo da Era Áurea. Assim, mais ou menos nas entrelinhas de uma obra densa, mas como uma valorosidade digna de um génio, o Poeta não chega só ao coração, mas também à consciência dos que ousam navegar num oceano que é tão ou mais profundo que o próprio Índico.
   Não é só pela ruptura, não é só pela novidade que foram Os Lusíadas, que consideramos esta obra, uma obra de contrastes. É por todas as almas que inquietadas ficaram com as maravilhas e as desgraças que os próprios portugueses edificaram. Nesta epopeia, sempre por desvendar, temos acesso ao bom e ao mau, ao claro e ao escuro, à coragem que se culmina na chegada, ao medo que se revela com o Gigante Adamastor, à debilidade e angústia do Velho do Restelo, à ambição dos Reis que fizeram cumprir as jornadas, à fé que se queria difundir numa missão de cruzada, ao ouro que se queria adquirir nas novas rotas comerciais traçadas... Tudo isto mais as críticas à própria falta de sentido crítico, à ausência de inquietação perante a arte, a poesia, o conhecimento e a música. Os apelos ao Rei que tinha de ter a coragem para enfrentar os inimigos e honrar os amigos, os apelos... tantos apelos contrastantes, que ganhando vida numa História passada, deram a Camões o lugar de narrador nesta estória bastante mais intemporal.

Tudo isto (e tudo o que está para além do que se vê), se encontra num enorme fascículo de dez cantos. Estes que, apesar de complexos formal e informalmente, têm a capacidade de deleitar qualquer um que se lance na descoberta da literatura camoniana. Na leitura, somos sugados pela emoção de uma passado que é de todos nós, um passado que vive no sangue velho dos nossos avós, um passado que é simultaneamente uma frida, que continuamente aberta, nos relembra todos os dias que o Tempo e a Glória que construímos um dia a partir da Barra, não mais nos pertencem.  Nisso também Camões pensou, cansando-se da gente surda e endurecida, apelou às novas conquistas, à libertação da vã cobiça, da tirania e da vil tristeza, de tal forma que, possamos verdadeiramente ascender um dia ...ao estatuto de heróis honrados.