Frase do Dia

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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um pouco sobre Pessoa e a sua "dor de pensar"

Não há felicidade senão com conhecimento. Mas o conhecimento da felicidade é infeliz; porque conhecer-se feliz é conhecer-se passando pela felicidade, e tendo, logo já, que deixá-la atrás
Livro do Desassossego de Bernardo Soares

   Fernando Pessoa foi o Poeta do século XX, influente e influenciado pelo movimento modernista, vemos na sua escrita vanguardista marcas profundas desta corrente artística, nomeadamente a necessidade de intelectualização constante de tudo o que o rodeia.
   Enquanto pensador, podemos destacar três principais temáticas, sendo a "dor de pensar" aquela que, de certa forma, coordena e se impõe perante as outras duas. Este tema é abordado não só em poemas como "canta pobre ceifeira" e "gato que brincas na rua" como também é alvo da escrita do seu lúcido e sóbrio heterónimo Bernardo Soares (facto que é visível no parágrafo transcrito em cima, do livro do Desassossego).
    Esta "dor de pensar" do poeta advém da incapacidade de conciliar a consciência e a inconsciência numa dinâmica produtiva, que na prática se explicita na impossibilidade de ser feliz e ao mesmo tempo aquilo que se revela, profundamente lúcido. Segundo Pessoa, esta relação paradoxal surge no seguinte raciocínio: para se ser feliz é necessário ter-se conhecimento disso, no entanto "o conhecimento da felicidade é infeliz" e por isso a felicidade implica ser-se infeliz.
   É pela percepção desta inevitável conclusão, que Pessoa se sente irreversivelmente perdido, com necessidade obrigatória de fragmentação e dispersão (de onde surge a heteronímia). Não achando conciliação possível entre a profunda ambição de ser feliz e tudo o que a consciência implica, o poeta torna-se o eterno insatisfeito.
   É através desta conjectura complexa, que os leitores se apercebem da genialidade deste Homem, tendo sido por isso considerado o maior crítico introspectivo da história da literatura.

1 comentário:

millou disse...

Não acredito!
Fico apenas a rir e perguntar-me «Porque não li isto ontem?!»...

Grande blog! Gosto imenso dos poemas e textos que aqui tens... especialmente "Memória" e "Convenções". Parabéns :D

P.S - votei a favor do novo visual ;)