Esta é a história da saudade crua. A saudade sem esperança que a cada dia me acompanha nos corredores escuros do pensamento.
Todas as vezes que me encontro comigo num hiato de minutos percorro aqueles três dias de agonia. Vislumbro olhares, volto a sentir o medo, a tristeza. Oiço as vozes que se fizeram música ausente. Pressinto de novo a tua partida e repito sem fim as frases, os movimentos, as decisões.
No longe ainda vejo o carro de vidro percorrer quilómetros sem regresso, sinto nos dedos a terra derramada e reflecte-se na água das minhas lágrimas o teu último suspiro.
Esta é a história da saudade crua. Uma saudade diferente de todas aquelas que vivem à custa dos encontros e reencontros. A saudade crua só existe entre os mortos e os vivos e faz-se altiva, penetrante e dolorosa à custa da linha intangível que separa este Mundo e o Outro.
Para esta saudade não há remédio, não há ressalva ou ponto de retorno. Só o esquecimento, que o tempo se encarregará de construir, poderá algum dia reconfortar a alma.
Se assim não fosse, se me lembrasse de ti para sempre como hoje me recordo, a saudade do futuro seria tão crua como esta do tempo presente.
Uma saudade triste, vazia e sem a esperança do reencontro.
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