Frase do Dia

  • "Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Orla marítima


A orla marítima dissolve os desejos outrora propulsores da nossa força.
Inconsequente, leva para lá do alcance visual aquilo que nos amparou e motivou em noites de tempestade, dias de fome e perdas de fé.
No arraste das ondas revoltas dilui-se ainda a esperança, a curiosidade e o Amor que tanto nos demorou a construir.
Essa água, que em tantas vezes transpareceu a verdade que há em ti e em tantas vezes se fez lágrima das nossa ansiedade, é hoje tão somente o trem de despedida.

As ondas passam e a água arrastada de outros tempos viaja hoje sem destino. No rodopio das correntes desencontradas vai tudo o que conhecemos e fizemos nosso. Vamos-nos. Assim, sem mais nem menos. Sem sabermos se algum dia as ondas mansas regressarão à costa.

domingo, 19 de junho de 2016

Cada vez mais longe de sermos Homens. Cada vez mais perto do que nos distancia


As cartas que nos escrevíamos guardam o pó das alegrias passadas.
Frases infindáveis de desejo, sentimento ou simplesmente histórias que nunca tinham por onde terminar preenchem papeis carcomidos pelo tempo e esquecidos por descuido.

As cartas de hoje não se escrevem.

As nossas partilhas não se fazem mais de crónicas ou versos ansiosos de despontar no outro o irremediável sentimento de saudade e vontade de estar junto.
As nossas partilhas são hoje artifícios, imagens perfeitamente esculpidas e inertes na sua acção. São verdadeiras obras primas: intocáveis, silenciosas, solitárias.

Quanto tempo vamos passar assim?
Quanto tempo conseguimos nós, seres sedentos de contacto, viver nesta alienação?

Dou por mim a pensar que talvez tenhamos chegado a um ponto sem retorno. Talvez a necessidade de ser feliz tenha verdadeiramente sucumbido à necessidade de parecer feliz.

Noutros dias, de maior esperança, penso: não é possível ficar aqui para sempre. O ser Humano não consegue fugir ad eternum aos seus instintos familiares, às suas necessidades mamíferas de afecto. Haverá com certeza um momento em que todos fugiremos desesperados destes artifícios há muito unidos por pontes intransponíveis.
As revoluções sempre chegam, dizem. E eu acredito.
Acredito que quando for a hora de fugir desta bomba relógio de ilusão, acabaremos por regressar aos que nos pertencem. Porque não existe casa, lugar ou realidade melhores, que o coração daqueles que escrevem cartas.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Confessemos


Confessemos os nossos pecados e admitamos as nossas fraquezas:
- Somos histórias inacabadas, incapazes de se apagarem ou reescrever. Seres imaculadamente incomparáveis aos enredos penetrantes dos livros que lemos, pela simples necessidade e desejo de finitude.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Claro como água: Estamos sempre a perder tempo quando não estamos a viajar.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Espaço


   Há para lá daquele susurro das memórias uma música e um cheiro que se entranham como a realidade o faz com o tempo presente. 
   Essa melodia e odor sussurrantes não se caracterizam pelos habituais adjectivos da existência, porque tão simplesmente fazem parte de uma outra dimensão onde as forma e os brilho não se acompanham de legenda.
   Tu desconheces os sons, os odores e a própria arquitectura das minhas memórias. 
E eu, igualmente, desconheço os produtos mentais que alimentam as tuas sinestesias. 
Ainda assim, há entre nós um espaço inventado, onde por obra cúmplice divina se modelam novas músicas, novos cheiros e memórias intrigantes que mais não são do que o resultado da fusão do nosso íntimo. 
   Neste espaço inventado que acedemos por portas inusitadas e fugazes reside a tua e a minha paz. 
É o lugar que nos abriga das tempestades do pensamento e nos permite, sem restrições, o exercício do Amor.
   Sempre que precisares desse nosso espaço, não hesites, há sempre lugar na infinitude da invenção...
(A imaginação tem destas coisas).