Frase do Dia

  • "Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"

sábado, 30 de novembro de 2013

Um excerto do Livro (sem título)

Deu um bafo profundo no cigarro e olhando a noite soltou a pergunta que seria a primeira do fim da sua vida:
   - Se te disser que nunca fui apaixonado pela vida, acreditas?
   - Não. – Respondeu ela muito séria e de olhar fixo nos olhos dele.
   - Porque não?
   - Que disparate, tu és dos tipos mais apaixonado pela vida que eu conheci até hoje... Adoras perder-te com ela, os teus olhos brilham quando ela te surpreende, o que é que é esta divagação agora?
Olhando-a com uma face dura disse:
   -Nunca poderei ser apaixonado por algo em que não acredito. Eu não acredito na vida, na sua essência. Eu não acredito que isto a que chamamos existência tenha um propósito ou uma finalidade. O Ser Humano limita-se a inventar, a perder-se, a procurar o que nunca vai encontrar – Parou por instantes e soltando o sorriso de quem conhece o poder da sua argumentação continuou – Olha a história de Deus e do Diabo, do Céu e do Inferno... tudo isso são invenções, são criações de um Ser que não suporta a ideia da solidão e a ideia da ausência de destino. Criamos, porque não suportamos a dor de não ter algo verdadeiro a que nos agarrar.
   -Ai é? – disse incrédula e com pouca paciência- E o amor? O amor também é uma invenção da ausência de tudo?
   -Médio, o amor é o chamado filho pródigo de uma família monoparental. É quase um erro de percurso percebes?
Fez que não com a cabeça e ele continuou:
   -O amor é o resultado de uma qualquer busca interior que advém da tristeza da vida não nos ser suficiente. De quando a quando, abrimos as janelas do que chamamos coração e ficamos muito tempo à espera na confusão dos temporais e dos dias solarengos. Um dia passa alguém, passa o chamado pretexto e zumbas – fazendo um gesto de quem apanha uma mosca no ar - apanhamo-lo!
Assumindo novamente a sua posição na cadeira continuou:
   -E depois é fácil, a mente fica responsável por tudo o resto. A pouco e pouco, embora o Outro com quem estamos assuma o papel de ama do nosso amor, vamos criando dedicadamente o nosso filho, nascido da corrente de ar da janela, num modelo rígido, obcecado e ao mesmo tempo desejoso de sofrer.
   -Hum... mas espera, então estás a dizer que o pretexto para o amor pode ser qualquer coisa da vida? A mesma que não existe?




sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cruzar



No fim de uma tarde de trabalho,
Com o Sol de Lisboa e o cheiro a castanhas de Outono
Vejo-te do outro lado de uma rua que é minha todos os dias.

A vida é assim.
Encarrega-se de se fazerem cruzar por nós,
Aqueles com quem nos devemos voltar a cruzar.

O valor que damos a esse reencontro,
O que fazemos com o que vemos e sentimos,
Já está por nossa conta.

E a cada vez que ignoramos o reencontro,
A cada vez que desejamos que ele aconteça noutro lugar,
Noutro momento,
A vida tira-nos, a pouco e pouco,
As chances de nos voltarmos a cruzar.

Pouco a pouco,
Dia a dia,
Até que a memória se canse
Ou a saudade se mate. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013