Num instante tudo muda.
A tua presença vira ausência.
O que era o dia, a rotina, o toque, desaparece como a leveza do que nunca existiu.
No negrume, vem uma nuvem que me adormece os sentimentos e a energia.
Fico só.
Fico só com aquilo que existe para além de ti-aquilo que pensava ser tanto.
Apercebo-me que preencheste muitos dos espaços que nunca deixara ninguém vislumbrar ou ocupar.
Entraste de rompante e criaste raízes profundas sem pedir, com a naturalidade de quem prometeu, sem palavras, ficar.
Hoje, neste instante, saíste sem deixar recado.
Deixaste-me no silêncio.
No meu íntimo, sempre soube que este dia ia chegar, porque quem como eu nunca abre as portas a ninguém, sabe que nada do que nasce pode durar para sempre.
É esta a beleza da efemeridade.
No final, julgo estar a sorrir, porque partiste para ser feliz.
E eu, que fui apenas o lugar de um tempo bem passado, dissipo-me do que fomos e encontro novos horizontes.
É esta a magia do instante: quando a nuvem passa, há muito mais para além do que se via.