Frase do Dia

  • "Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"

domingo, 30 de janeiro de 2011

Enough


Frágil meu e teu
Por não ter sido a sós
Por ter Sido (Ser)
Por nos ter Tido (Ter).

Quem me dera
Saber beber dessa gota de amar.
Um copo partido em casa
Morrer de sede no próprio mar.

É frágil nosso
Mau para o corpo
Mau para a alma
Bom para o Morto
Bom até para a calma

Companhia ainda a há
Esperança ainda tenho e,
Contenho.

Será algum dia possível este Adeus do Amor?

Será (já foi)?
Irá (já cá não está)?
 
É frágil por se querer partir, mas ainda não ter partido.

sábado, 29 de janeiro de 2011

No fim

Nunca nos tornamos verdadeiramente selvagens:
Porque os Outros nos impedem.

Vão-nos amparando aqui e ali.
Falam-nos de consolo e de apoio.
Vão estando lá,
para o sussurro e bajulação.

Vamos rindo e chorando
Com tantos ao nosso lado.

Temos medo, medos comuns muitas vezes.

Chegamos a cumes com Eles,
Vencemos em equipa.
Resistimos a derrotas num grito comum.
Protestamos em conjunto.

Somos vistos como um todo,
e avaliados nem na metade.
Somos símbolo de união,
numa individualidade oposta.

Quando amamos,
Amamo-nos uns aos outros.

Somos o Nós em todas essas circunstâncias...

Mas esquecemo-nos que, afinal
Nascemos sós,
Morrendo da mesma forma.

No fim de tudo isto,
Somos nós connosco.

Se é difícil imaginar a paz
Na alegria da solidão?
É.

Mas acredita,

És só tu contigo
E eu comigo.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Um dia

Um dia vamos estar demasiado velhos para andar a pé e subir montanhas, já não apreciaremos o ar puro do campo e os animais que nele habitam. Vamos passar a vida a dizer "No meu tempo é que era" ou "Já não se fazem coisas como antigamente", vamos resmungar mais e preocupar-nos demasiado connosco. Um dia vamos deixar de ter paciência para acordar de madrugada para ver o nascer do sol, vamos deixar de nos empolgar horas antes de irmos sair à noite, vamos deixar de sentir o arrepio na barriga a cada vez que vemos a pessoa que amamos. Um dia vamos deixar de nos rir das piadas secas dos amigos, vamos achar que somos demasiado adultos e, recusaremos qualquer partida de Party&Company. Um dia vamos começar a vestir saias compridas e a dizer "Vai-se andando", porque o frio nos vai gelar os ossos e nunca mais iremos permitir que o calor das pernas de adolescente extermine o gelo glaciar. Um dia vamos deixar de surpreender quem mais gostamos, porque sofremos por essas ou outras pessoas, vamos achar que dar flores está fora de moda e que, um postal com simples frases é coisa de miúdos. Um dia vamos todos entrar na faculdade e deixar de ter tempo para a família e para os velhos amigos, vamos andar sempre de trombas, vamos achar que as dificuldades só nos tocam  nós e que por isso há que ter direito de exilo. Um dia vamos deixar de achar graça ao Natal, porque vamos achar que já não temos a verdadeira idade para essas fantasias. Não vamos ver graça nos presentes e vamos passar a consoada a contar as notas que o avô nos deu. Um dia vamos deixar de gostar de coisas novas, porque tudo já está inventado e tudo já está dito. Já não vamos ter prazer em ir a um restaurante novo, porque afinal ,trata-se apenas de ter uma coisa diferente no prato. Vamos deixar de querer viajar, porque isso mata a carteira de muita gente e porque cada vez mais os terroristas fazem cair aviões. Um dia vamos deixar de escrever, por acharmos que já não temos a quem escrever, que já não temos capacidades para o fazer. Um dia vamos deixar de nos encontrar, porque os telemóveis e os chats abreviam o tempo da viagem para ir ter com o outro. Um dia vamos deixar de sorrir por chegar à estação de comboio de Cascais ou de Lisboa, vamos deixar de nos rir a cada vez que tropeçamos e caímos, vamos ser demasiado sérios no cumprimento de regras, mas caso apareça uma possibilidade de fuga ao fisco, não vamos hesitar. Um dia vamos deixar de ir ao teatro, porque nos vai custar vestir roupa chique ou então porque o teatro vai ser cada vez mais caro. Um dia vamos deixar de chorar de emoção, porque já nada nos vai ser capaz de comover, vamos deixar de andar às cavalitas ou de levar alguém ou colo porque "Estou muito gordo" ou "Não tenho forças". Um dia vamos deixar de nos sentir bem a tirar fotografias, porque isso implica ter sempre a mão fora do bolso e estar atento. Um dia vamos passar mais tempo sozinhos, vamos deixar de acreditar nas pessoas, vamos achar que a culpa é do Mundo e vamo-nos esquecer do mal que fizemos. Um dia vamos achar que house é coisa de gente esquisita, Kuduro é para malta de baixo nível e o que está a dar é somente o monótono sussurrar das moscas. Um dia vamos achar que temos de tomar muito café para nos mantermos acordados, vamos achar que ser fino é não falar  com estranhos e vencer na vida é sinónimo de ter muito dinheiro. Um dia vamos ter profundas e dolorosas saudades de quem verdadeiramente gostámos e gostou de nós, vamos chorar por não termos dito o que pensámos ou sentimos, vamos sentir frio por não termos abraçado aquele amigo que sempre esteve lá. Um dia vamos casar com a pessoa que não gostamos, porque não fomos humildes ou porque pura e simplesmente não nos apeteceu sair de uma zona de conforto. Um dia seremos muito mais tristes, azedos, cinzentos e snobs... 
Nesse dia, o mais provável é deixarmos de partilhar todas estas coisas...
Por isso aqui fica uma sugestão...
Quando esse dia chegar... vira-lhe as costas.

Pequena adaptação do anúncio Sumol

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Umas quantas passas

As sombras não têm tempo, são uma roda intermitente sem necessidade de contagem.

As realidades ou irrealidades verdadeiramente importantes, não são mensuráveis.

As ausências não se trocam, coincidem.

O que damos não contamos, o que recebemos não esquecemos.

As palavras nunca chegam nem nunca servem.
Qualquer coisa que se diga, já foi dito. Não existem palavras por dizer...

Os perfumes cheiram-se, as ruas sentem-se.
E quando isto se troca... Por fim...está feito.

Nós

O que mais gosto em nós...
Não são as ideologias de esquerda ou de direita,
Não são as beatices ou as descrenças,
Não é a inteligência,
Não é a imaginação,
Não são os sentimentos ou a falta deles,
Não é o cepticismo nem as influências,
Não é o gosto nem a preguiça,
Não são as falhas nem os triunfos,
Não é o que criamos nem o que paramos de criar,
Não é a mentalidade meticulosamente matemática,
Nem a crença pura no poder das letras.
Não é a capacidade de julgar nem a de silenciar,
Não é o desleixo nem a obcessão...
Não é...e é tudo.

O que mais gosto em nós...é capacidade de aceitarmos... todas estas coisas...
Em cada um de nós.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Álvaro no seu sentido mais leve

  De acordo com a carta escrita por Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, Álvaro de Campos terá nascido em Tavira a 15 de Outubro de 1890. Nesta mesma cidade algarvia terá frequentado um liceu comum e aprendido, por via de um tio que era Padre, o Latim. Mais tarde ter-se-á mudado para Glasgow onde inicialmente frequentou o curso de engenharia Mecânica. Não tendo terminado esta licenciatura, optou pela engenharia Naval. Ainda na Escócia desenvolveu actividades ligadas à sua profissão, tendo posteriormente se mudado para Lisboa, onde passou à inactividade.
  Na sua biografia é de destacar um acontecimento importante na marcação do período de passagem de uma fase de decadência para uma fase de histeria e alvoroço, a viagem ao Oriente (momento em que foi escrito o "Opiário).
  No que diz respeito às características físicas, vemos grande similaridades com o próprio Fernando Pessoa. Campos era magro, alto, com uma tendência para se curvar, usava monóculo. De cabelo liso e moreno, ainda que com alguns cabelos brancos, aparentava ser um judeu português.
  Ao nível das características informais, será necessário fazer uma divisão das fases distintamente personalizadas que o poeta atravessara.
   Numa primeira instância, temos a fase decadentista, esta caracterizou-se por uma cansaço e sentido enfastiante da vida; numa necessidade de corromper o estado amorfo em que se encontrava, o poeta partiu na descoberta de novas sensações, viajando para o Oriente.
   Tendo regressado à Europa, foi conduzido a um novo estado anímico. Integrando as correntes modernistas aí exultadas, Campos celebrou nesta fase futurista/sensacionista o triunfo da novidade, a energia, a força, a rapidez, as dinâmicas imparáveis que deixavam o século 20 cada vez mais "louco".
   Por último, pela incapacidade de realização, pela constatação do mistério indesvendável das sensações, Álvaro cai num diferente estado abúlico e desesperançado. Apartando-se de tudo e de todos, não encontra em parte alguma o sentido da existência, o motivo da sobrevivência.

  Será desprezível a leveza na abordagem de cada uma das fases mencionadas, às quais o próprio poeta se sujeitou,ou não. Talvez Pessoa, se tenha sentido verdadeiramente sozinho e, por essa razão, terá criado um ser incomodamente parecido consigo, que incluiu na sua roda imparável de emoções e para sempre recordada dos tempos outrora heróicos. Caminhando lado a lado com a melancolia, com o desejo do inatingível e com a profunda agustia de não realizar o irrealizável, estas duas almas singularizam-se num uníssono de vazio, de cansaço, de desgosto não desgostado pela vida.
   Sempre tentaram, sempre tentaram se esconder numa qualquer coisa matrializável... na máquina, no álcool, no ópio, nos outros, na infância, no sono ou no simples verso. A verdade é que sempre tentaram esconder uma qualquer coisa, que na poesia intelectualizada que escrevem se desvenda irremediavelmente... a tristeza de um dia terem nascido no Mundo e para o Mundo.

   Tentemos por isso, mais uma vez, na porcaria da mentalidade de português, compreender uma qualquer coisa nos génios, que os próprios nunca compreenderam em si.
   Que me poupem a alma... Deus nosso! Eles nasceram no Mundo e para o Mundo, mas nunca fizeram parte dele... Como poderemos nós, simples mortais, que nada mais conhecem para além da janela da vizinha, apartar-nos dessa realidade idealmente criada e vivermos, por um só segundo a genialidade deste deus fecundo?...Dessa Pessoa, que até o sobrenome teve...? 

Frente e Verso

Já pelo sair da porta da frente...
Num sussurro,
Alguma coisa,
Alguém, talvez,
Chamou por mim.

Tinha de voltar para averiguar.

-"Esqueceram-se-me as queijadas".

Um toque fatal. Uma falha crucial.
Afinal, ainda existem coisas que nos fazem parar e voltar.

Mal ou bem, que esse regresso me fez...
Aconteceu.
Para a frente e para trás, também a evolução se faz.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Fim

Acordei e pensei:
Hoje terminou uma etapa.
Hoje começou uma nova etapa em mim.

Não veio de fora para dentro.
Veio de mim para mim, fugindo de certo para fora.

É hora...
É tempo de partir...

Tudo o que foi meu, levo no coração e no baú das memórias.

domingo, 9 de janeiro de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Dividir II


Depois, no grupos dos que sonham...

Temos os que nunca chegam a ir,

Os que vão mas arrependem-se,

Os que pensam que vão,

Os que vão e nada deixam,

Os que não vão nem deixam ir,

Os que vão por obrigação...

E talvez existam...
Os que vão e são muitas vezes felizes por um dia terem ido.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Artista

Artista.
Normais ou anormais,
Não importa.
Mais bem parecidos,
Desparafusados.
Quiçá comuns como todos os mortais...
Quiçá imortais, por construírem a tempo,
Mundos que próprio Mundo ainda não viu.

Os riscos, as cores, os relevos...
Naqueles dias foram assim
Por acaso,
Caso o acaso
Se lhes tenha tomado conta.
Naqueles dias foram assim
Sem acaso,
Porque algo os atormentou,
Porque naquele dia simplesmente,
Havia a necessidade de atribuir um novo rumo ao que mudou.

Grandes obras nascem duma guerra interior,
Por mil tentativas, uma fica perto.
Grandes obras nascem da ataraxia,
da impassibilidade estagnada em si mesma.
Assim é como na vida.
Os grandes feitos poderão vir da persistência...
Mas há sempre na história, uma descoberta na coincidência.

Os Artistas,
envolvem.
Petrificam.
Vão-nos às entranhas,
por se assemelharem a qualquer coisa que nos pertence,
ou pensamos que pertence.

Os Artistas,
às vezes não nos dizem nada.
Como o céu não diz nada aos peixes,
Ou como as letras,
Que nada significam para um analfabeto.

Os Artistas,
Os verdadeiros artistas...
Conheço poucos.

Os que conheço,
dão-me voltas.
Por isso gosto.
Gosto Muito.

Mais que tudo,
Mais que a atitude
Mais que a leveza de espírito,
Mais que os sentimentos que aspiram...
Mais que tudo isso.
O verdadeiro significado destas frases:

"A descoberta do cientista é o comum do artista. A idealização do artista é o falhanço do cientista"

Nós descobrimos uma qualquer coisa que já existe.
Vocês...
Vocês são Deuses, criam o inexistente